Flexões: domine o exercício e sinta as mudanças

Por Marissa Gainsburg

flexões womens health destaque

Flexões, há uma razão para os sargentos no exército sempre as cobrarem como forma de punição. Elas são muito difíceis, derrubam até as mais marombeiras e parecem desenhadas para mostrar nossas fraquezas. Tanto que algumas editoras de fitness (eu!) acabam sendo culpadas por pulá-las no meio de uma série de exercícios. Minhas maiores desculpas durante os treinos são: “Ah, estou muito dolorida” ou “meus cotovelos doem muito!”

Mas – e sempre há um “mas” – elas são o melhor custo-benefício do mercado. Flexões são megaeficientes – e trabalham o corpo inteiro em cada repetição. Com disciplina fitness (um mês repetindo o mesmo exercício todo santo dia), pensei: “Se eu me comprometer a fazer flexões diárias, mudo meu pensamento de que elas são terríveis e ainda ganho uma dose extra de músculos?”. Pronta para me desvencilhar das desculpas e tornear meus braços, topei o desafio.

Primeiro passo: liguei para o personal trainer Tony Gentilcore, um especialista em força e condicionamento de Boston (EUA), para me auxiliar com o plano. Flexões modificadas, ou seja, com os joelhos no chão – que tantas de nós fazemos para facilitar o serviço –, estavam fora de questão; elas não dão força no corpo inteiro, então decidimos excluí-las. Mas nada de centenas de repetições. Nosso protocolo pedia dez por dia. “Dez é a dose mínima para se ter resultados eficazes”, disse Tony – o que significa que é apenas a quantidade ideal para trazer mudanças notáveis nos seus membros superiores, mas sem deixá-la sobrecarregada demais para desistir. Mesmo assim, ele avisou: “Demore o tempo que for – ou divida as flexões ao longo do dia – para garantir repetições cheias de qualidade”.

Prancha: quanto tempo na posição para ter resultados?

Como alguém que treina seis vezes por semana, pensei: “Dez flexões? Sem problemas! Posso acabar com elas no fim da minha série na academia ou enquanto faço o jantar”. Porém os primeiros dias foram inesperadamente duros. Minha rotina típica envolve bíceps rosca e supino (movimentos de músculos isolados), além de um boxe ocasional. Meus membros superiores não estavam acostumados a segurar meu corpo inteiro. E apesar desse novo treino não me deixar no maior estilo “meu Deus, não consigo nem lavar o cabelo”, eu definitivamente contei os minutos para sexta-feira para que a fase mais difícil, o início, chegasse ao fim.

flexões womens health

Flexões: como dominar

1. Comecei com minhas mãos abertas em uma 1 largura maior que os ombros, para mais estabilidade. Tentei trazê-las mais perto para desenhar o tríceps, mas nunca fiquei confortável.

2. De início, sentia a flexão machucando meus punhos. No fim, podia sentir meus músculos fazendo o trabalho mais pesado, poupando minhas articulações do estresse extra.

3. Minha primeira série levou tanto tempo porque não 3 percebi quão difícil era segurar o core e os glúteos para não deixar o quadril cair. (A resposta é: muito difícil.)

4. Levantar a cabeça é uma falha comum. (Eu z isso com frequência para checar a postura.) Todos os dias eu realmente precisava pensar sobre a minha cabeça: queixo e nariz apontados para o chão.

5. Enquanto você pode separar seus pés para deixar cada repetição mais fácil, eu resolvi fazer com os meus juntos para um desafio extra – exceto nos dias em que estava muito dolorida.

Evolução

-->

Mesmo me arrastando no começo, as coisas aconteceram rapidamente: no primeiro dia, levei cinco minutos (e várias pausas) para executar as dez flexões de forma perfeita, com repetições em que o peito descia até o chão. No dia 15, levei menos de três minutos. No dia 30, demorei 27 segundos. “Quanto mais você faz alguma coisa, melhor fica, porque está trazendo comunicação entre seus neurônios e os músculos”, explica Tony. Não só as flexões ficaram mais fáceis, como tudo mais que eu fazia na academia, como pranchas, slam balls e cordas navais. “Muitas pessoas acreditam que a melhor maneira de medir o progresso é por meio da força bruta – quando você testa o quanto de peso consegue carregar. Mas um melhor avaliador de progresso é quando você ca menos cansada depois da mesma quantidade de repetições.” Maravilha!

Agora vamos falar sobre outro tipo de progresso – o dos músculos. Eu saí de zero definição para o módulo saradona? Nem perto disso. “Acontece, a não ser que você seja geneticamente abençoada pelo ganho de músculos a jato, que 30 dias não é tempo suficiente para desenvolver definição”, diz Tony. Crescimento muscular e perda de gordura – o combo que deixa os braços desenhados – levam mais tempo, no mínimo seis semanas de esforço.

O que, afinal, eu consegui ver nesse mês de exercícios repetidos? Ombros mais esculpidos e bíceps e tríceps ligeiramente mais marcados. E também percebi um bônus bem- vindo: abdômen mais sequinho. “Para fazer uma flexão perfeita, o core precisa encaixar para levantar o quadril, o que resulta em uma barriga mais definida.”

E aqui vai a melhor mudança: quando cheguei ao meu treino de boxe e me pediram 30 flexões, eu não apareci com uma desculpa esfarrapada. Habilidade é um ingrediente crucial para a confiança. Tony complementa: “É o segredo de não apenas manter uma atividade física, como também passar a gostar dela”. Talvez seja por isso que, 15 dias após o desafio, eu continue com as flexões diárias. Não como punição, mas como recompensa.

Testamos: joelhos no chão

A redatora-chefe de WH, Camila Borowsky, conta como foi encarar o desafio de 30 dias de flexões.

Estava em uma fase mais preguiçosa quando topei o desafio das dez flexões por dia. Da mesma forma que a Marissa, editora de fitness da WH nos EUA, eu fui atrás de um profissional para me explicar o passo a passo do movimento. O escolhido: o professor da academia Bio Ritmo, em São Paulo, Turi Sonzzini. Porém, diferentemente de Marissa, eu preferi fazer o exercício com os joelhos no solo (que, sim, facilita um bocado, mas há uma chance maior da postura sair corretamente). “Flexão apoiada nos joelhos não é errada. O que existe são adaptações para, depois, evoluir. Começa de joelhos no solo, depois vai abrindo ou fechando mais as mãos, dificultando o exercício”, explica Turi. “Se, com o tempo, você conseguir aumentar o número de repetições, melhor. É aí que você vai ver a evolução”, completa, alertando que o ponto de parada é quando o movimento falhar.

Coluna e cabeça alinhadas e lá fui eu. Levei cerca de um minuto para completar a primeira dezena – e não me apressei, fui no meu ritmo. No day after: dor, mas não me esquivei da disciplina. Dia após dia, o exercício ficava mais leve. Com o fim do primeiro mês, senti até mesmo as atividades cotidianas ficando mais fáceis, como carregar meu filho no colo. No corpo, não notei mudanças visíveis, mas o desafio serviu para eu me reanimar a treinar pesado. Depois dos 30 dias, baixei um app e sigo malhando em casa. Quem sabe logo mais crio coragem para tirar os joelhos do chão?

*Essa matéria, originalmente intitulada “Use suas armas”, foi publicada na ed. 98, de outubro de 2017, da Women’s Health Brasil. Você pode conferir a edição completa pelo nosso aplicativo, basta clicar aqui.