Foi durante o banho que Beatriz Bierbauer sentiu um grande caroço no seio esquerdo. Era 2014, ela estava com 24 anos e tinha feito seus exames de rotina há quatro meses, tudo normal, por isso nem mesmo o seu médico acreditava que pudesse ser algo grave. Dez dias depois, uma ultrassonografia levantou o alerta: havia chances de ser um câncer e era preciso agir com urgência. A biópsia confirmou a suspeita.
“Como eu amo a área da saúde, não foi um choque. Jamais pensei que morreria disso, mas que estava tendo uma oportunidade de ver a vida de outra forma. Iria viver mesmo no limite do meu corpo e observar o quando não temos controle das coisas nessa vida”, lembra Beatriz, hoje com 27 anos.
Processo
Antes de iniciar sua batalha contra o câncer, Beatriz fez um tratamento para retirada e congelamento de óvulos, já que, com a quimioterapia, haveria um risco de infertilidade. Feito o procedimento, no dia seguinte ela deu início a sua primeira quimioterapia, a vermelha (nome dado por conta da cor do medicamento). A cada 21 dias era feita uma aplicação, totalizando quatro sessões. Esse foi o período mais difícil, com mais efeitos colaterais. Além dos enjoos constantes, os cabelos começaram a cair e o semblante já denunciava que alguma coisa estava acontecendo. “Se olhar no espelho nessas horas é difícil”, conta.
Para isso, ela apostou em alguns truques. Nas sobrancelhas, micropigmentação. Para os cabelos (que havia raspado, quando começaram a cair), uma peruca com fios semelhantes aos seus. “Esses pequenos detalhes ajudaram muito, tanto que era muito difícil perceber que eu estava doente.”
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Depois das quatro aplicações, teve início outro tratamento quimioterápico, que era executado uma vez por semana.
Passados 20 dias do fim desse tratamento, Beatriz fez a cirurgia para retirada das mamas, junto com a reconstrução. Ao todo, esse processo durou oito meses. Hoje Beatriz realiza apenas os exames de controle.
Encarando os fatos
Para Beatriz, o processo foi um aprendizado. Ela decidiu que veria o lado bom daquela situação. “Na verdade, não deixei ninguém contar que eu estava doente, justamente para evitar os olhares de dó. Não acreditava que precisava ser tratada de forma diferente.”
Por mais que estivesse enfrentando um câncer agressivo, ela não deixou o medo ser mais forte do que ela. “Nunca acreditei que poderia morrer pelo câncer, tinha muita fé que tudo passaria logo.”
Aceitação
Toda essa batalha fez com que a autoestima de Beatriz fosse colocada em prova. Ela estava prestes a fazer um implante nos seios, quando teve que lidar com essa situação. “Para mim, os seios eram a parte mais importante do corpo. Tive que me desfazer de todas as crenças de um corpo ideal, eu ainda acreditava que dava para construir um”, recorda. Mesmo com a reconstrução, seus seios mudaram de forma. Depois de dois anos, com uma segunda cirurgia, ela conseguiu, enfim, aceitar melhor o seu corpo.
“Principalmente pelo fato de ser mulher e ter uma mudança tão radical em pouco tempo, você precisa se redescobrir para não se abater. Essa redescoberta acaba te transformando muito por dentro, você se torna uma pessoa menos apegada ao mundo físico e passa a ter um novo ponto de vista de outras coisas”, confessa.
Para quem, assim como ela fez um dia, luta o contra o câncer, o conselho de Beatriz é ter fé – para vencer esse desafio – e encarar a situação como uma nova chance. “Aproveite para se descobrir novamente, poucas pessoas têm essa chance, principalmente se for jovem. Há quem pense que a vida acabe nesse momento, mas eu acredito que ela começa de novo.”
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