Nesta última semana foi divulgada mais uma ótima notícia a favor da saúde. Cirurgiões de Baltimore (EUA) realizaram o primeiro transplante de rim de um doador vivo com HIV. Isso significa que, se outras pessoas HIV-positivo se manifestarem, poderá liberar espaço na lista de espera de transplantes para todos.
Segundo o Associated Press, a doadora Nina Martinez, de 35 anos, contraiu HIV em uma transfusão de sangue com apenas seis semanas de idade, em 1983 – antes de os bancos de sangue começarem a triagem para a doença. Ela viveu até os 13 anos sem medicamentos quando, em 1996, as drogas de supressão viral foram liberadas.
A mulher, cujo HIV é suprimido por essas drogas a um nível indetectável, começou a pesquisar mais sobre cirurgia de transplante para que pudesse doar seu rim a um amigo também HIV positivo. Infelizmente, ele morreu antes que os testes fossem concluídos. Contudo, ainda assim, Nina foi em frente e decidiu homenageá-lo doando o rim a um estranho, também soropositivo.
Na última semana, então, ela viajou de Atlanta ao hospital da Johns Hopkins University, em Baltimore, para a cirurgia. Segundo contou ao Associated Press, Nina “queria fazer a diferença na vida de outra pessoa”. Sua intenção também era combater o estigma que muitas vezes ainda envolve a infecção do HIV. “É uma declaração poderosa para mostrar que alguém como eu é saudável o suficiente para ser doador de órgãos vivo.”
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Após a cirurgia, o hospital informou que tanto a doadora quanto o receptor passam bem. “Aqui está uma doença que, no passado, foi uma sentença de morte. Agora ela tem sido tão bem controlada que oferece às pessoas portadoras a oportunidade de salvar outras vidas”, disse Dorry Segev, cirurgião do hospital, que defende a HIV Organ Policy Equity (ou Lei de Equidade de Políticas de Órgãos do HIV), lei que modifica as regras relativas à doação de órgãos entre indivíduos HIV positivos.
Os números dos últimos anos
Nos EUA não há contagem de quantos dos 113 mil pacientes da lista de espera para transplantes são HIV-positivos.
Somente nos últimos anos, estimulados por algumas operações pioneiras na África do Sul, os médicos norte-americanos começaram a transplantar órgãos de doadores falecidos com HIV para pacientes que também têm o vírus.
Desde 2016, 116 desses transplantes de rim e fígado foram realizados nos EUA como parte de um estudo de pesquisa, de acordo com a United Network for Organ Sharing (Unos), que supervisiona o sistema de transplante.
Os médicos, contudo, ainda hesitavam em permitir que as pessoas vivas e com HIV fossem doadoras. Sua preocupação era de que o rim remanescente pudesse ter risco de danos causados pelo vírus ou por medicamentos mais antigos usados para tratá-lo. “Mas os novos medicamentos anti-HIV são mais seguros e eficazes”, garante Segev.
Sua equipe estudou recentemente a saúde renal de 40 mil pessoas soropositivas e concluiu que as pessoas com HIV bem controlado e sem outras doenças prejudiciais aos rins, como a hipertensão, podem ter os mesmos riscos da doação de pessoas sem HIV. “Além disso, geralmente, os rins de doadores vivos duram mais tempo”, acrescentou o Dr. Niraj Desai, cirurgião que cuidou do receptor no hospital Johns Hopkins University.