Quando a modelo Ashley Graham apareceu na capa da revista de fitness Sports Illustrated, dos EUA, a reação do público foi previsível: com um manequim de tamanho 48, a norte-americana tem mais curvas para exibir do que as mulheres que geralmente estrelam as publicações, e muita gente na internet se incomodou com isso.
Em uma foto do seu treino postada no Instagram, ela escreveu: “Só porque eu sou uma modelo plus size, curvy e real não significa que eu não me exercito para manter tudo no lugar”. Mas isso não impediu várias pessoas de afirmarem que ela não poderia ter uma boa saúde com aquele corpo. A resposta de Ashley? “Há muitas pessoas pensando que podem olhar para uma garota do meu tamanho e dizer que não somos saudáveis. Você não pode. Apenas o meu médico pode.”
Jane se identifica. Ela sabe muito bem que sua forma física não é a de quem faz dieta de alface e biscoito de arroz – mas também sabe que há uma diferença entre não ter saúde e estar acima do peso. No ano passado, depois de um término de relacionamento que deixou a escritora descontando as emoções na comida e a levou a pesar 90 kg, ela decidiu assumir o controle.
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Em questão de meses, Jane perdeu 6 kg comendo alimentos saudáveis e praticando corrida duas vezes por semana. Depois ela deu mais um passo à frente e completou um desafio de oito semanas com a WH. Ele envolvia uma alimentação ainda mais natural e cinco treinos com peso corporal por semana. Ela perdeu mais 6 kg. Seu IMC caiu de 33 para 30,5 – uma melhora, mas ela ainda era obesa (a faixa considerada saudável para mulheres é de 18,5 a 24,9).
Muitas pessoas a encorajaram a continuar, mas estando perto dos 82 kg, capaz de executar flexões com o próprio corpo, correndo 10 km mais rápido que os amigos magros e – o mais importante – se sentindo saudável e feliz com o próprio corpo, ela decidiu parar de se concentrar na balança e começou a viver uma vida equilibrada.
Meses depois, fazendo exercícios três vezes na semana, seguindo uma dieta equilibrada e dando a si mesma a liberdade de comer algumas guloseimas, Jane continua obesa. Mas o que isso significa para a saúde dela?
Métodos antigos
O IMC tem sido usado por médicos há mais de um século para classificar o peso saudável. Sua fórmula é simples: basta dividir seu peso pela sua altura ao quadrado. Mas há controvérsias. Já que a massa magra pesa mais que a gordura, alguns atletas acabam com IMC na categoria dos obesos.
Um importante estudo publicado no internacional Journal of Obesity analisou a ligação entre o IMC e a saúde metabólica medindo pressão arterial, níveis de glicose e colesterol. Os resultados mostraram que quase metade das pessoas com excesso de peso (de acordo com o IMC) é realmente saudável, enquanto 30% daqueles com IMC normal não são.
De acordo com especialistas, isolar o IMC pode levar a uma imagem distorcida. “Sabemos que a obesidade, em graus distintos, é uma condição que caracteriza fatores de risco para algumas doenças, como as cardiovasculares. No entanto isso não quer dizer que todas as pessoas com sobrepeso sejam consideradas não saudáveis”, explica Hélio Castello, cardiologista intervencionista e diretor do Grupo Angiocardio, de São Paulo.
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Então o que diferencia uma obesidade saudável de uma não saudável? É tudo questão de manter o corpo em movimento. Já sabemos que pessoas de todos os tamanhos que não praticam exercícios físicos são menos saudáveis que aquelas que o fazem – um estudo recente da University of Cambridge (EUA) descobriu que o sedentarismo mata duas vezes mais pessoas que a obesidade.
O problema é que vira um ciclo: pessoas obesas frequentemente chegaram a esse ponto por falta de atividade física. Sedentarismo e excesso de peso são companheiros de longa data. “O sobrepeso pode não ter qualquer relação com aptidão física – pessoas magras podem não conseguir realizar exercícios básicos por conta do sedentarismo. No entanto pessoas obesas geralmente não se exercitam, o que as leva a acumular gordura”, explica o cardiologista Ricardo Casalino, do Prevent Senior, em São Paulo. E é daí que vem a associação. Por outro lado, ter uma rotina de exercícios pode ser essencial para exames com bons resultados. “Manter-se ativa influencia diretamente na sua saúde metabólica”, afirma a endocrinologista Gabriela Fonseca, de São Paulo.
E, se você não pratica exercícios, sua massa magra também diminui. Isso dificulta ainda mais a capacidade de carregar o excesso de peso e causando ainda mais cansaço. Outra má notícia? “Como os músculos são alguns dos maiores consumidores de açúcar no nosso corpo, perdê-los pode levar à diminuição da sensibilidade à insulina, que aumenta a tolerância à glicose, elevando o risco de diabetes tipo 2”, explica Gabriela.
Mas e as mulheres como Jane, que se mantêm ativas? De acordo com uma pesquisa feita por Samuel Klein, professor da Washington University em St. Louis (EUA), se você era metabolicamente saudável antes de engordar e continua se exercitando, permanecerá metabolicamente saudável depois. “Existem muitas pessoas obesas que passam por avaliações clínicas e se mostram com saúde dentro dos parâmetros aceitáveis”, explica Hélio.
Opinões diversas
Mas é claro que nem todos concordam que há uma obesidade saudável. “O sobrepeso é um fator de risco para doenças cardiovasculares e metabólicas como, por exemplo, diabetes, dislipidemia (colesterol alto) e hipertensão arterial (pressão alta)”, afirma Ricardo. “Todo indivíduo que pretende ser saudável deve buscar um peso adequado para sua altura com atitudes como boa alimentação, práticas de atividades físicas e controle do estresse psicoemocional”, afirma.
Para reiterar essa opinião, uma pesquisa divulgada no International Journal of Epidemiology relatou que pessoas magras e sedentárias ainda têm um risco de morte 30% menor que aquelas que são obesas e praticam esportes.
O resultado conflitante com as pesquisas citadas anteriormente acontece porque ser metabolicamente saudável e obeso é um “estado intermediário”, segundo o pesquisador de obesidade Joshua Bell, da University College London (Inglaterra). Ou seja, embora os participantes acima do peso ideal estivessem fisicamente ativos, depois de algum tempo eles voltaram aos hábitos não saudáveis, em parte por culpa da própria obesidade – o sobrepeso leva ao cansaço, que leva ao sedentarismo.
Seu estudo sobre indivíduos considerados “obesos saudáveis” descobriu que 40% deles se tornaram metabolicamente não saudáveis 20 anos depois. Apesar disso, Jane ainda viu o lado positivo da pesquisa. Mais da metade do grupo ainda está saudável depois de 20 anos. E ela está determinada a ser parte desse grupo! Nas primeiras semanas do seu desafio da WH, ela estava agoniada. Nunca havia se sentido tão autoconsciente sobre seu tamanho e capacidade física. “Indiscutivelmente, malhar com segurança é mais complicado para as pessoas maiores”, contou. “Quando você está com sobrepeso, sua frequência cardíaca se eleva com mais rapidez. Por isso, a respiração deve ser bem controlada e profunda, para melhor oxigenar o sangue. As articulações também podem ser sobrecarregadas com maior facilidade”, explica a personal trainer Juliana Hitomi, do estúdio Just Run Club, de São Paulo.
O que devemos ter em mente é que, como mostra um estudo do Institute for Exercise and Environmental Medicine (EUA), que recrutou 66 atletas obesos – muitos dos quais participaram do Ironman e outras competições de triatlo –, pessoas obesas e ativas são muito mais aptas do que se pensava anteriormente. “Pessoas podem, sim, estar obesas e ainda com o sistema cardiorrespiratório bom. A tendência é que o exercício melhore o condicionamento”, diz Juliana.
A sua forma não é atestado de sua saúde, seja magra ou gorda. O importante é se movimentar!
Influências de peso
@tatianalimmaa
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Tatiana Lima é dançarina da Anitta e compartilha cliques se exercitando em diferentes modalidades.
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O feed da Jamaica King apresenta a garota fazendo desde corrida até ioga – sempre se mantendo ativa.
@mynameisjessamyn
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