Era só mais um exame de rotina, na verdade um autoexame de rotina, quando Flavia Gonçalves, aos 31 anos, sentiu alguma coisa estranha, um pequeno nódulo em sua mama. Com conhecimento dos possíveis riscos e um histórico familiar que pedia atenção, a administradora de empresas buscou imediatamente uma médica mastologista. Com uma biópsia inconclusiva, foi preciso uma cirurgia para retirada do nódulo, foi quando veio o resultado: um tumor maligno. Flavia começou então a sua batalha contra o câncer de mama. Uma guerra que refletiria em sua vida para sempre.
Tratamento
Quando soube que seu tumor era maligno, Flavia precisou ser operada logo no dia seguinte à primeira cirurgia, porque seria preciso remover uma espécie de “margem de segurança” que não havia sido retirada da primeira vez. Como estava localizado nas mamas esse procedimento seria o mais indicado.
Para evitar que o câncer aparecesse novamente, Flavia deu início a um novo tratamento, a quimioterapia, cerca de um mês após a sua cirurgia. “Eu ia ao hospital e tomava todos os remédios intravenosos. Foram 6 ciclos de quimioterapia, a cada 21 dias, quase 5 meses de tratamentos. Um esquema tóxico, eu era muito jovem, mas o risco já era alto por conta da idade”, relata Flavia, que não esperava que um dia pudesse passar por aquela situação.
Passado esse processo foi a hora de enfrentar a radioterapia, que durou mais um mês. “Você vai todos os dias ao hospital e faz uma sessão na mesma região, sempre, para matar qualquer célula atípica.”
Mãe de uma menina de 1 ano, Flavia viu na pequena uma razão para não desistir, em meio a um processo tão doloroso e sofrido. “Ao todo foram cerca de 8 meses”, lembra. “Quando você está focada na doença, o medo da morte é muito presente. Eu precisava estar aqui para ela”. Por outro lado, o trabalho funcionou como uma válvula de escape, porque fazia com que direcionasse suas energias para outras coisas, não somente na doença.
Corpo
A cirurgia em si não mexeu tanto com a relação da Flavia com o seu corpo (ela precisou retirar uma parte pequena da mama, não foi necessária reconstrução), mas todo o tratamento em si foi delicado. “Fiquei bastante debilitada, perdi todo o cabelo, sobrancelha, fiquei meio deprimida”, lembra.
Anos depois, após o nascimento da segunda filha, Flavia decidiu fazer uma cirurgia profilática, aquela para retirada dos seios e ovários como forma preventiva ao câncer. “Retirei as duas mamas e reconstruí para eliminar qualquer risco de ter a doença de novo”, lembra a administradora, que ainda preferiu esperar para decidir sobre a retirada dos ovários.
Mudanças
Ao todo, foram necessários 5 anos até Flavia ter alta de seu oncologista e se livrar de vez daquele medo que a acompanhava a cada visita ao especialista. ” No começo eu fazia exame no corpo inteiro a cada 6 meses. Eu ficava ansiosa, com medo de descobrir algo de novo. A medida que aquilo vai ficando mais distante, você começa a olhar e ver que não tem mais nada lá, você começa a se tranquilizar.”
O processo fez com que Flavia mudasse seus hábitos e cuidados com a saúde ficaram mais presentes no seu dia a dia. Mas as mudanças foram muito além da alimentação e das atividades físicas. Estamos falando de estilo de vida e prioridades. “Procuro desfrutar mais a vida. Logo que eu terminei o tratamento, as pequenas coisas começaram a me chamar mais a atenção. Muitas vezes aquilo passaria despercebido, hoje eu tento fazer uma espécie de fotografia mental.”
Seu ritmo no dia a dia também mudou, já que o trabalho, por muito tempo, a consumiu. “Comecei a relativizar um pouco mais isso. Quanto isso vale para a minha vida? Se eu morrer vão lembrar de mim por quê? Pela planilha que eu fiz ou por algo que fiz de importante para alguém?”
Hoje, aos 45 anos, o conselho de Flavia para quem luta essa mesma batalha é: não desista. “Encare esse desafio como algo contra o qual você está preparada para lutar. A maneira de encarar faz toda a diferença para conseguir sair dessa.
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