por Camila Borowsky, com colaboração de Larissa Serpa
Aos 24 anos, Anitta quer ganhar o mundo e tem batalhado para isso. Capa da edição de julho da revista WH, ela contou à redação como tem administrado sua carreira, os planos de ser mãe e como concilia malhação e dieta com uma rotina corrida. Você confere a entrevista completa a seguir.
Você já disse que se autobatizou em razão da série Presença de Anita. O que aquela menina tinha que fez com que você se identificasse?
Ela dizia que podia ser várias mulheres ao mesmo tempo. Ela não precisava ser só Anita, ela se dava vários nomes. E eu achava isso muito incrível, porque sou assim. Não sou só um tipo de pessoa. Tem um lado meu que é mais sério, outro mais infantil, outro mais brincalhão. Depende da minha necessidade no dia. São todas parte de mim. Sou coisas
muito diferentes ao mesmo tempo, e isso pode ser difícil para as pessoas entenderem.
Você procura agir do jeito que canta em suas músicas?
Eu só canto o que acredito. Eu nunca canto uma coisa que não tem a ver comigo.
Anitta ganhou os holofotes cantando o empoderamento das mulheres. Você se considera feminista?
Eu me considero feminista se você for olhar o sentido real da palavra, que é a igualdade entre os gêneros. Mas acho que o grande problema é que hoje o feminismo não é uma coisa só, ele tem várias vertentes, e algumas delas são radicais, no sentido oposto. De querer inverter a situação dizendo que o homem é isso ou aquilo. Não curto. Eu sofro mais preconceito de mulheres que de homens. Noto que algumas acham que existe uma forma certa de ser mulher. E, se você não é da mesma forma que elas acreditam ser a ideal, acabam com a sua raça. Eu não acredito nisso. Acredito que existe uma forma certa de ser humano, que é você respeitar, ter caráter, ser uma pessoa honesta. Agora, de ser mulher, não.
O que é o melhor e o pior de ser mulher neste mundo em que a gente vive?
O melhor é que quando uma mulher realmente quer algo, ela conquista. E o pior é ter que lidar com todas essas barreiras que colocam quando você assume suas atitudes.
Você se sente mais pressionada por ser mulher?
Não acho que é por ser mulher, mas por ter as atitudes que tenho. Se eu fizesse a linha boazinha, santinha, que tem um namoradinho, que nunca fez plástica, que nunca sai na rua, que só fala coisa legal — “ai, nunca falei um palavrão” —, aí eu não teria preconceito nem julgamento nenhum. Todo mundo ia achar tudo incrível. Mas o fato de eu ter as atitudes que tenho, ser quem eu sou, falar o que faço, aí, sim, gera pressão.
Você é a favor da legalização do aborto?
Olha… eu não faria, mas acho que as pessoas têm que ser livres para fazer o que elas quiserem. Não adianta legalizar nem proibir, você precisa informar. Se você educar as pessoas, não vai precisar proibi-las de nada porque terão conhecimento. Penso o mesmo das drogas. Não adianta nem liberar, nem proibir. Você tem que ensinar o motivo
das coisas. Mas isso leva tempo, dinheiro, dedicação. Então é muito mais fácil proibir.
O que passa pela sua cabeça quando você se olha no espelho de manhã, ao acordar?
Penso: “Ai, será que fiz a coisa certa?”. Porque é muito difícil essa carreira que escolhi. E eu sei que é um caminho sem volta porque conheço o brasileiro. Ele não aceita o fracasso. Se você vai bem, vai aplaudir, botar o tapete vermelho, jogar purpurina, você vai ser rainha. Se não for bem, meu amor… ele acaba com você com a mesma força que te colocou lá em cima. Cara, se eu tivesse medo, nem teria começado.
Qual a porcentagem da sua carreira que você dedica à sorte?
Um por cento! O resto é ralação. Sempre.
Você tem medo de que as pessoas enjoem de você?
Não. Se cansarem, vou inventar um outro plano. Estou sempre me reinventando.
Quando descobriu que era uma boa gerenciadora da sua própria carreira?
Quando precisei. Não tinha ninguém que eu confiasse e achasse que poderia ser bom para mim. Aí me joguei. Para minha carreira na América Latina até encontrei um empresário. É uma pessoa em quem confio e gosto, mas que está começando nesse ramo. Então tem muita coisa que eu sei, mas que essa pessoa não tem experiência. Lá fora também
estou dando meus passos de empresária.
Dê um exemplo de alguns dias na tua rotina como gerenciadora.
Eu otimizo, faço tudo pelo telefone. Enquanto estou no caminho, vou resolvendo. Hoje, no carro, vindo para cá, falei no telefone com um patrocinador para decidir algumas estratégias, para ajudá-lo a ter melhores resultados. Ontem, enquanto ia para o programa (ela apresenta o Música Boa ao Vivo, no Multishow), estava em reunião por telefone com o advogado.
Você pensa no futuro, em aposentadoria? Quando envelhecer…
Penso. Mas se eu pensar muito não vou ter carreira internacional, porque é um risco muito grande. Eu estou arriscando tudo. Custa muito caro, o investimento é muito alto. Você tem que deixar de estar aqui, presente, precisa escolher as suas guerras. Decidir o que vai perder aqui e lá. Na minha estratégia, não posso ficar ausente, nem lá, nem aqui. Então tenho que dar um jeito de ser três pessoas: a brasileira, a do mercado latino e a dos
Estados Unidos que, depois, vira mundo. Se eu fosse pensar em aposentadoria e futuro, não tentaria a carreira internacional. Ela é mais competitiva, então você tem que estar lá, refém do sucesso.
E por que vai se jogar? É por dinheiro?
Na verdade, não penso em dinheiro. Minha vontade é mais de chegar lá e mostrar para mim mesma que consegui, que sou capaz. Levar o nome do nosso país para fora, coisa que nunca aconteceu antes.
O que gosta de fazer com o seu dinheiro? Você é do tipo que economiza?
Eu gosto de investir na minha carreira. Não gasto com nada, só com a minha carreira.
Se pudesse abrir um negócio que não fosse relacionado à carreira artística, o que seria?
Tenho vontade de aumentar a minha empresa e representar vários artistas. Mas aí tem a ver. Para algo nada a ver, talvez buscasse alguma coisa relacionada à comida [risos]. Já teve um país que eu fui em que a comida era tão ruim em todos os lugares, mas tão ruim, que eu não conseguia encontrar algo para comer. Fiquei pensando: “Vou abrir um
restaurante neste país e ficar trilhardária”.
Você consegue tirar algum dia para fazer absolutamente NA-DA?
Se eu quiser, sim. Mas tenho que planejar esse dia com muitos meses de antecedência. Aí fico de bobeira, vejo filmes e curto minha família. Mas tem muito tempo que não faço isso. Ah, também vou ao cinema. Amo cinema!
Já li que você sonha em ser mãe – de repente até maternidade solo. Em quanto tempo isso poderia acontecer?
Quero mais é adotar! Eu me imagino uma mãe completamente dedicada, me doando por inteiro, parando carreira. Por isso que teria que ser muito mais para frente. Mas não tenho a necessidade de ter a criança dentro de mim. Acho que já tem muita gente no mundo, dá para eu adotar.
Como imagina sua vida em dez anos?
Dez? Vou estar com 34. Se Deus quiser, com uma carreira internacional. Se não, com uma carreira nacional incrível. E empresariando muitos artistas, ajudando muita gente.
Qual era o teu medo de infância?
Sempre tive medo do escuro.
Qual o teu maior medo hoje?
Hoje tenho medo de perder minha lucidez. Morro de medo.
Como é a Anitta em casa?
Horrorosa. Horrorooooosa real. Amor, acordei e é um camisetão e fim. Mas tem muito tempo que não sei o que é isso…
Como não deixar que esse mundo – muita gente bajulando você o tempo todo – suba à sua cabeça?
Não sei e quase não conheço gente não afetada por isso. É bem difícil. Não faço a menor ideia. Acho que é porque eu ainda não conquistei tudo o que quero e nunca esqueço o que passei para conseguir o que tenho hoje.
Mas você acha que depois de conquistar vai ficar cheia de si?
Tomara que não. Nossa! Fico apavorada de pensar na ideia. Tenho muito ranço de gente que é assim, então fico apavorada de ficar igual, sabe? Olho de perto gente que eu achava um bafo e não é… Aí eu falo para minha terapeuta: “Não quero ficar desse jeito aqui, ó, me ajuda!”.
Com a agenda atribulada, você consegue frequentar médicos?
Médio. Falo muito com os meus médicos por telefone. Faço consultas à distância, faço exames e envio por e-mail. Tento fazer assim. Mas às vezes eu consulto, sim.
Quais são os seus médicos de rotina?
O endócrino, a otorrino, médico da voz. Um ginecologista, que sempre tem que ter.
Seu corpo está um escândalo. Qual a parcela de participação da coach Mayra Cardi nele?
Foi a Mayra que me colocou para fazer terapia. Antes eu achava bem desnecessário. Na verdade, a gente come para aliviar questões. Aí ela viu de perto a minha vida e falou: “Amor, você vai enlouquecer, hein? Só para te avisar. Falta pouco”. E me aconselhou a fazer terapia, me mostrou coisas que poderiam mudar minha rotina [uma das mudanças
foi colocar uma personal chef à disposição da cantora o dia inteiro] e o por que disso. Coisas que eu nunca tinha percebido. Eu como por ansiedade, por exemplo. E a Mayra observou coisas do meu ambiente que estavam aumentando a minha vontade de comer.
Mas como funciona? Você entra em contato com ela e manda um S.O.S.?
É. Teve um dia que eu estava com muita vontade de comer no aeroporto e ela foi me ajudando. “Não come, por causa disso e disso. Olha o quanto você ralou para chegar nesse corpo, para chegar nessa saúde.” Aí vai aconselhando. “Está com vontade disso? Come isso.” E ela está 24 horas no telefone, à disposição. Você tem treinado quantas vezes
por semana? O que tem feito? Tenho treinado, mas às vezes preciso fazer escolhas. Vou dar um exemplo: ontem tive um date [um encontro]. Com ele não posso dizer “podemos nos ver daquia três meses, no dia 25?”. É escasso o negócio. Se apareceu, tem que agarrar essa oportunidade, entendeu? [gargalhadas]. Então, para ter um date, preciso
sacrificar alguma coisa… Não vou dormir direito, vou trabalhar com sono, não tem como malhar, não tem como fazer nada. Às vezes você tem que escolher. Ou vou para o date ou vou dormir cedo, acordar cedo, malhar e trabalhar.
Mas tem conseguido treinar?
Cara, semana passada treinei todos os dias.Aí, nesta semana, não treinei nenhuma vez. Em uma semana boa, treino quatro vezes entre musculação e funcional. Esta semana eu teria treinado todos os dias se não tivesse dates. Mas eu arrasei [risos].
Qual o seu foco principal nos exercícios?
Foco aqui, na celulite [aponta a perna]. Aqui atrás da perna é o meu foco sempre.