Por Camila Borowsky
Colaboração Larissa Serpa
Sexta-feira de chuva. Dia das fotos de capa para a WH. Cleo Pires chega ao estúdio na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, com o cabelo preso e quase nada de maquiagem. Pontualíssima e ostentando um sorriso enorme no rosto. Achei que havia sido uma impressão pessoal, mas depois entendi que era a opinião geral: quando mais a gente fala com ela, mais quer conversar. Dá uma vontade louca de conhecer mais daquela mulher. Por ser naturalmente sexy, ela seduz todos que estão à sua volta. E não é um seduzir sexual, é um brilho diferente. Ela parece ter um ímã, uma luz… Em alguns minutos de papo, fui fisgada. E fiquei ali, meio hipnotizada pelo conjunto da obra.
Durante nossa entrevista, que durou pouco mais de meia hora, ela contou da dificuldade que tem para estabelecer uma rotina na vida e de que como isso se transformou em um de seus objetivos em curto prazo. “Ela, a rotina, tem uma coisa de disciplina, que é muito saudável para atingir metas. Eu ainda não aprendi a usá-la a meu favor. Ela ainda mata meu espírito, sinto que sufoca a minha criatividade. Sou vítima dela. Mas quero poder dosá-la.”
Entre as metas de vida está a ideia nada simples de conseguir mudar o mundo. “Não sou narcisista ao ponto de achar que vou modificar o planeta ao redor de mim. Mas acredito que você se transformando, transforma o mundo ao redor. Adoro a ideia do autoconhecimento”, conta.
Na entrevista a seguir, Cleo fala de treino, dieta, beleza e filhos. Leia e tente não ser hipnotizada.
“VOCÊ NÃO PODE SER REFÉM DE NADA”
Qual a sua ideia de saúde?
É poder fazer tudo que deixa você saudável mentalmente, espiritualmente e fisicamente. Acho que é preciso ter um equilíbrio. Eu não acredito em ‘ah, eu não fumo, não bebo, não faço nada porque preciso ficar em forma’. Eu bebo, eu fumo meu cigarrinho de vez em quando, mas também não vivo só disso. Acho que você não pode ser refém de nada, mas fazer o que naquele momento é o melhor para você.
Então você não é muito paranoica com manter o corpo em forma?
Não. Mas agora vou fazer um filme com bastante cenas de biquíni, roupa curta. Então quero dar uma secadinha…
Você tem dificuldade de encontrar um exercício para chamar de seu?
Cara, eu tenho total. O exercício que mais se adaptou à minha vida – porque você leva para onde estiver e ele é muito independente – é a corrida. Comecei há dois anos. Mas iniciei recentemente o funcional com a Cau Saad e já vi resultados. São treinos rápidos, de 40 minutos. Não gosto de treinar muito. E eu consigo me policiar para treinar sozinha em casa.
O que notou de diferença?
Já senti que sequei um pouco. Uma coisa boa é que meu corpo muda muito rápido. Para o bem e para o mal. O primeiro lugar que muda é a barriga.
O que faz se não consegue treinar?
Seguro muito na alimentação.
Você já experimentou algum exercício mais relax?
Fiz ioga Ashtanga por anos, mas ela não é relax, é pauleira. Mas parei. Acho que é porque eu me entedio muito fácil. Desde criança, sempre precisei de muito estímulo. Mas estou melhorando. Tenho feito relaxamento e uma meditação chamada mindfullness, guiada por um aplicativo, o Headspace, que é muito legal.
Se considera na sua melhor forma?
Não. O corpo que mais gostei foi quando gravava a novela Caminho das Índias (2009). Estava bem magrinha, mais durinha. Eu sou sanfona. Gosto muito de comer, sou hedonista mesmo. Não é charme, não. E tenho tendência a ser a um pouco preguiçosa, ao mesmo tempo em que rola uma hiperatividade mental. Eu penso muito. Preciso sentir que estou produzindo, que estou usando a minha curiosidade, descobrindo ou fazendo coisas. Mas não necessariamente me exercitando. Então, pra onde vai todas essas calorias? (risos). Mas eu também não enfio o pé na jaca.
Qual sua relação com o espelho?
Acho que sou mais narcisista do que vaidosa. Eu gosto de um espelho, não necessariamente por me achar bonita. Não sei o que é. Até falo sozinha me olhando no espelho.
“SÓ NÃO TIRA MEU DRINQUE!”
Como cuida da alimentação? Já foi a algum nutricionista?
Eu fui por muito tempo, mas agora não. Porém, sou muito curiosa. Leio muita coisa. Já fui vegetariana, vegana… Entendo um pouco de tudo. Conheço meu corpo. Fiz alguns tipos de dieta, então sei como ele reage a certas coisas.
Você tem algum hábito saudável que as pessoas nem imaginam?
Eu bebo muita água. Mais de 2 litros por dia, com certeza. Amo.
O que não pode deixar de comer?
Eu não gosto de deixar de beber. Gosto muito de chegar em casa e saber que eu posso tomar uma taça de vinho, sentar ali e ver uma série, um filme, ou ler um livro, pesquisar minhas coisas na internet. Ou que vou encontrar com meus amigos e vou tomar um drinque, sabe? Gosto desse ritual. Então já falo: “vai me dar uma dieta? Só não tira meu drinque”.
CLEO POR CLEO
Atriz fala de futuros filhos, sexo e autoconhecimento
Você faz terapia?
Desde os 17 anos. Parei várias vezes, me dei alta (risos). Segui várias linhas. Já me encontrei em várias, mas sou muito curiosa, então quero sempre conhecer outras. Adoro essa coisa de autoconhecimento. Acho que você pode se transformar de várias formas. E chega uma hora que as coisas “vencem”. Agora estou fazendo terapia cognitiva comportamental. Ela é mais objetiva, mais prática.
Você é sempre muito direta para falar de sexo. O que é uma vida sexual saudável na sua opinião?
Eu acho que uma vida sexual saudável é aquela em que você respeita os seus valores sexuais. Todo mundo acha que sexo é você fazê-lo, mas sexo é uma energia sexual. O sexo feito é uma consequência dessa energia. E, às vezes, a sua energia sexual não quer ser usada. Às vezes, uma boa vida sexual é você não estar fazendo sexo naquele momento. Uma vida sexual saudável é você respeitar a sua energia sexual.
Você já disse algumas vezes que quer ser mãe. Que tipo de mãe será a Cleo?
Eu tenho muito desejo de ser mãe. Acho que vou ter traços da minha mãe [a atriz Glória Pires]. Ela sempre quis que a gente tivesse liberdade para ser quem a gente é, e quero isso para os meus filhos. Penso que vou alimentar os seres únicos que eles vão ser. Não vou querer que se encaixem em padrões do que uma escola quer que façam, do que uma sociedade espera que sejam.
Você toparia uma produção independente?
Eu tenho enveredado cada vez mais para esse lado. Tenho visto que para ter alguém na minha vida e dividir a criação do meu filho terei que fazer certas concessões do meu estilo de vida, e não estou disposta a isso. Eu lutei muito e abracei muito as minhas dores e minhas causas para ser quem eu sou, me amar, e não me abandonar para agradar ninguém. Quero uma pessoa do meu lado que tenha essa força, que passe esses valores para o meu filho, mas não tenho encontrado essa pessoa. Então prefiro ser mãe solteira e passar isso – e quem sabe eu encontro alguém no meio do caminho? – a ter que me diminuir para estar com alguém só para parecer que tenho uma família que as pessoas acham perfeita, sabe?
Do que você se arrepende nessa vida?
Talvez de não ter acreditado mais em mim mais cedo.