Começo a coluna de hoje com algumas perguntas que gostaria que você respondesse a você mesma:
– Quando foi a última vez que você desligou o seu celular (ou pelo menos deixou dentro da bolsa) e prestou real atenção à conversa de seus amigos?
– Durante o trabalho, quantas vezes você para o que está fazendo para checar as mensagens do whatsapp?
– Quantas vezes este ano você encontrou os amigos com quem conversa frequentemente por redes sociais?
Possivelmente você deve ter respondido que manteve estreitas as relações virtuais, mas que as conexões reais ficaram a desejar. É exatamente sobre isso que quero falar hoje: a importância das conexões reais para a nossa saúde.
Um estudo muito interessante foi feito, em 1961, na pequena cidade de Roseto, nos Estados Unidos. O local, fundado por imigrantes italianos, usava o dialeto sulista da região de Foggia, na Itália, de onde veio a maioria dos moradores do local.
Um médico americano e um sociólogo decidiram estudar a cidade, que apresentava características bem peculiares: ninguém em Roseto com menos de 65 anos sofria com problemas cardíacos. Depois de se instalarem na cidade, examinarem a população inteira, concluíram: as relações sociais faziam dos habitantes de Roseto saudáveis.
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Como bons imigrantes italianos, a alimentação local passava longe de ser saudável, exercícios físicos também não eram praticados regularmente. A chave da saúde dos habitantes de Roseto era o modo como conduziam suas relações. Todos se conheciam, as portas das casas estavam sempre abertas para quem quisesse entrar e todos se viam como uma grande família. As pessoas de Roseto eram verdadeiramente conectadas umas às outras e isso fazia com que elas fossem mais saudáveis.
Depois desse estudo – e de muita discussão e ceticismo – outros pesquisadores da área da saúde decidiram investigar mais sobre como as relações humanas e reais influenciam a saúde do corpo. O resultado: todos concluíram que precisamos uns dos outros para sermos mais saudáveis.
Quero propor mais uma reflexão a você. Pense em três pessoas com quem você pode contar em sua vida, não só nos momentos felizes, mas quando você precisa de ajuda de fato. Talvez você tenha dificuldade em achar três, talvez já tenha claro para você quem são essas pessoas. Agora pergunto: quantas vezes neste ano você encontrou pessoalmente essas pessoas? Precisamos do contato olho no olho, do abraço, da energia do outro para sermos mais felizes.
A felicidade em estabelecer relações reais está cientificamente comprovada. Aqueles que mantêm laços fortes de amizade tendem a cuidar mais de si, a prestar atenção ao que comem e têm boas noites de sono. Estar conectado às pessoas influencia no funcionamento dos seus sistemas cardiovascular e imunológico. Manter relações reais diminui as chances de desenvolver doenças cardíacas. Mais que tudo isso: o isolamento social é o que mais mata as pessoas, superando índices de suicídios, acidentes de automóveis e câncer.
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Por isso, te desafio: termine o ano fazendo bem a você e a quem você quer bem. Desconecte-se. Desligue o telefone quando estiver jantando com seus amigos e família. Olhe nos olhos quando conversa. Diga às pessoas que você gosta o quanto elas são importantes para você. Coloque como sua meta para 2019 estreitar as relações da vida real.
Use sim, os comunicadores. Uma das grandes vantagens das redes sociais é a possibilidade que elas trazem de reencontrar amigos de infância, do colégio… Eles têm inúmeras vantagens, desde que usados com parcimônia.
Termino o nosso “bate papo” de hoje convidando você a pegar o seu telefone e escolher uma pessoa com quem tenha falado muito através das redes sociais para chamar para um café ou cinema. Faça isso agora. Vai te fazer bem.
Um abraço e até a próxima,
Dra Ana Paula Carvalho
*Ana Paula Carvalho é Médica Psiquiatra, Mestre em Psiquiatria pela Escola Paulista de Medicina, sendo a primeira psiquiatra brasileira com certificação internacional em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of Lifestyle Medicine (Board Certified Lifestyle Medicine Physician).