Eu venci um câncer: após vitória, leitora cria ONG para pacientes

Por Thieny Molthini

Crédito: Andre Bittencourt

Foi durante uma noite de novembro de 2013 que Kalyn D’Amaro Diegues sentiu fortes dores no peito que a fizeram ficar acordada por algumas horas. Com o tempo a dor diminuiu, era incômoda, mas nada que a fizesse mudar alguma coisa em sua rotina, até que na semana seguinte a dor foi tão forte que fez com que Kalyn procurasse por um Pronto Atendimento.

Depois de alguns exames, um raio-x chamou a atenção do médico que a atendia: havia alguma coisa no peito que tinha quase o tamanho de seu coração. Kalyn passou então por uma tomografia e cerca de três horas depois foi dada a notícia: “Encontramos uma formação sólida em seu torax, você terá que fazer uma biopsia. Nós já entramos em contato com a equipe de oncologia”. Não havia dúvidas sobre a gravidade da situação. Era maligno. Só faltava descobrir o câncer contra o qual ela iria lutar.

“Eu tinha certeza que não sairia mais do hospital e que teria apenas algumas horas de vida. Liguei para minha mãe, sem pensar, e pedi que pela me ajudasse, que fizesse alguma coisa”, lembra Kalyn.

Tratamento

Descoberto o câncer, era preciso saber mais sobre o que Kalyn estava prestes a enfrentar. Assim que souberam do tumor, ela foi internada e, junto com a sua família, houve uma conversa com um especialista que mostrou que era possível vencer. “Não tive muito tempo para pensar. Descobri que não iria morrer e que havia um caminho possível, porém muito difícil a ser percorrido.”

Depois de alguns exames protocolares e uma biópsia, Kalyn descobriu que enfrentaria um Linfoma Não-Hodgkins (LNH). Ela então foi encaminhada a um onco-hematologista.

Daquele momento em diante foi uma corrida contra o tempo, já que em uma semana o tumor cresceu 2 cm. “O tempo era nosso inimigo, não podíamos desperdiça-lo”.

A batalha foi intensa. Na primeira vez Kalyn ficou cinco dias internada fazendo quimioterapia por 24 horas, sem interrupção (até mesmo para tomar banho). Ela saía do hospital, ficava um ou dois dias em casa e retornava para mais 10 dias seguidos de tratamento e assim foram feitos seis ciclos de 21 dias em aproximadamente quatro meses.

Mudança

Kalyn, depois de vencer o câncer, junto com o marido, Marcelo, e as filhas, Gabriela e Manoela

A cura foi conquistada e toda a sua vida transformada. Seus valores mudaram, suas prioridades mudaram. “Sou dona do meu tempo e não abro mão de estar com minha família e praticar atividade física regularmente.”

No meio de toda essa revolução interna, Kalyn fundou em fevereiro de 2014 a UP, umaONG que tem como objetivo fortalecer e resgatar a autoestima de outras mulheres que lutam contra o câncer. “Temos um cadastro de voluntários de diversas áreas. Nós vemos o que o paciente mais precisa naquele momento e personalizamos o atendimento”, explica. Hoje a ONG trabalha em um projeto para viabilizar a confecção de perucas e a formação de grupos de pacientes em casas de apoio, já que atualmente os atendimento acontecem apenas na região de Barueri e Santana de Parnaíba, em São Paulo, uma vez que os voluntários precisam ir até a casas dos pacientes.

“Desistir não pode ser uma escolha. Não questione “por que comigo?”, pois não é uma questão de punição ou merecimento, mas “para que comigo?”. Pode ser rápido ou demorar anos, mas certamente algum dia você entenderá as razões deste momento”, finaliza Kalyn.

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