Por Angélica Souza
Um dos resultados de uma pesquisa recente divulgada no evento “Meninas que jogam”, realizado este mês no Museu do Futebol, mostrou que 70,5% das meninas de 8 a 12 anos responderam que praticar esporte é importante para ser feliz.
Acredito que todo mundo já teve aquele sentimento nostálgico ao olhar fotos antigas, principalmente da infância e adolescência: eu era feliz e não sabia. Pois é, essas meninas estão nos mostrando que elas sabem como ser feliz. E, sim, meninas, apesar de terem poucos anos, pouca experiência e estarem apenas no começo dessa jornada. Vocês estão certas, não tem como negar.
O esporte, tão negado às meninas na infância e na adolescência – substituído por bonecas, atividades domésticas e outras besteiras de “coisas de menina”, é parte fundamental da construção de uma pessoa com qualidades e capacidades para ser um adulto confiante, sociável, disciplinado e saudável.
Eu, MESMO SENDO MENINA, sempre tive o esporte como pilar principal da minha vidinha infantil e da minha vida agora. E a primeira sensação que ele me deu foi pertencimento. Foi assim que eu escolhi meu time de futebol, para me sentir parte de algo, para ter companheiros que cantam, vibram e divertem com a mesma paixão. E quanta alegria eu sentia nisso.
Na prática do esporte, objeto da pesquisa citada acima, o sentimento é ainda mais intenso. Vocês já fizeram parte de um time?
Jogando futebol, desde o time da rua, era incrível poder jogar, dar risada, comemorar, gritar “TAFAAAAREL”, a cada defesa do goleiro. E aí tinha brigas, birras e castigos paternos (os cartões amarelos e vermelhos daquela idade). Ali se aprende a perder, a ganhar e, principalmente, que depois do jogo, todo mundo podia voltar a ser amigo.
Na escola, começam os treinos – quem não se sentia uma jogadora profissional só por treinar fundamento depois da aula? – , os torneios contra outros times, como é bom jogar (e ganhar também) com suas amigas, defender as mesmas cores, ter torcida. Tem tristeza nas derrotas? Tem, sim. Mas tudo superado pela convivência, pelas comemorações e pelas amizades. Ali passamos a entender que com aquelas amigas, podemos dividir a vida muito além da quadra, campo, tatame, piscinas…
Já entrando na vida adulta, tem os jogos universitários, as rivalidades com outras faculdades, novamente a incrível sensação de pertencimento, de estar junto com outras pessoas em busca de um objetivo em comum, se sentir parte de algo é vital para todo mundo e para quem pratica esporte é para lá de especial. Ninguém, no esporte amador, joga em um time com pessoas que não se identifica. Não dá. Não orna.
As situações colocadas aqui são de quem começou o esporte criança e continuou até a vida adulta e, infelizmente, não é o que acontece com a maioria das meninas: até os 17 anos, mais da metade das meninas (53%) terá abandonado o esporte, justamente no momento em que o esporte poderia beneficiá-las mais*. Ou seja, aquelas que apesar de todas as adversidades na infância conseguiram praticar alguma modalidade, não se sentem estimuladas a continuar depois da puberdade e um dos grandes motivos é a falta de exemplos femininos para inspirá-las.
Felizmente, cada vez mais, outras mulheres descobrem o prazer de jogar mais tarde, já adultas, e incluem o esporte na rotina. Ainda é pouco, mas é uma esperança.
Obviamente, nem todas as meninas vão ter vontade de “seguir carreira” no esporte amador, mas são elas que devem escolher se não querem. Não se pode negar o direito de conhecer bolas, raquetes, quadras, campos, raias, tatames. Tampouco de correr, de comemorar, de competir. As meninas estão pedindo por mais esporte, elas querem ser mais felizes e sabem como.
*Dados de uma pesquisa global encomendada pela marca Always.
Angélica Souza, Nayara Perone, Roberta Nina e Renata Mendonça são quatro mulheres apaixonadas pelo futebol que se uniram para levar informação de qualidade e angariar adeptos para uma causa: conferir mais atenção, espaço e respeito pelo sexo feminino no meio esportivo com e, juntas fundaram o portal ~dibradoras.