Por Gabriela Ingrid
Não é preciso ser atleta desde criança para competir e ganhar troféus. É só perguntar para Gabriela Giamoniano. Depois de seguir uma vida sedentária por 35 anos, a designer têxtil de São Paulo largou o sofá e passou a se dedicar ao duathlon (modalidade que une corrida e ciclismo). A mudança de hábito gerou tantos comentários das amigas que ela decidiu criar uma página no Facebook para postar suas conquistas, tirar dúvidas e estimular outras mulheres a fazerem o mesmo. “A ‘Atleta Depois dos 35’ é a forma que encontrei de incentivar as outras a, mesmo com a vida agitada do trabalho, encontrar tempo para treinar e se dedicar a um esporte”, diz ela.
Jovem e acomodada
Antes de conhecer o duathlon, Gabi não fazia qualquer tipo de exercício. “Eu era completamente sedentária até os 35 anos – quando virei o jogo! Eu acordava e dormia tarde e me alimentava de qualquer maneira”, relembra. Quem fez ela conhecer o esporte foi seu namorado, Fábio, que usava a bicicleta para se movimentar pela cidade. “Ele foi me ensinando a pedalar – eu não sabia nem trocar as marchas – e fui me arriscando mais, perdendo o medo de andar na rua. Até que passei a usar a bike como meio de transporte.”
Dos passeios na rua, Gabi migrou para as provas. “Como sou muito competitiva, comecei a perceber o quanto era legal ultrapassar outras pessoas, mostrar minha força. Mas meu condicionamento físico não ajudava em nada.” A partir daí, ela decidiu iniciar um treinamento com profissionais para melhorar seu fôlego e ter condições de competir.
Na época, ela sentia o questionamento das amigas. “Sempre falavam: ‘Nossa, você é louca, vai começar a treinar agora, com 35 anos?’ ou então ‘Eu não teria coragem nem tempo, minha vida é muito corrida’. Percebi que as minhas dúvidas eram as mesmas de muitas mulheres que levam uma vida sedentária. Às vezes elas nem imaginam que podem começar a treinar, competir, praticar um esporte”.
Causa e consequência
O que estimulou Gabi a criar o projeto do blog não foi apenas o estilo de vida das amigas. “Quando encontrei uma pesquisa do Diesporte, percebi que minha voz poderia fazer alguma diferença”, afirma. Ela se refere ao estudo que diz que a maior causa para o sedentarismo no Brasil é a falta de tempo e outras prioridades (estudo, trabalho, família).
“De acordo com o IBOPE Repucom, quando as mulheres são questionadas sobre os motivos que as impedem de praticar atividades físicas, elas citam barreiras emocionais, como medo do fracasso e vergonha. Então decidi montar a página para mostrar o meu dia a dia, mesmo sendo tímida – o que também se tornou um desafio diário.”
Além de incentivar a prática esportiva, Gabi ainda quer mostrar que participar de provas também é saudável. “Competir, ganhar e sentir o orgulho de levar para casa um troféu não é um sonho restrito a quem treina desde a infância. Mesmo depois dos 35 anos, a disciplina e a força de vontade podem render boas medalhas e até mesmo melhorar o desempenho profissional”, conta ela. “E isso em conjunto com o trabalho e os estudos.”
Vida nova e ativa
Hoje a paulistana treina corrida e ciclismo três vezes por semana e, a cada 15 dias, faz um treino técnico de mountain bike nas trilhas. A nova vida ativa influenciou muitas de suas amigas a começarem a olhar a bicicleta como meio de transporte, a investirem na corrida ou na caminhada. “Eu achei tudo isso muito incrível. Senti que estava servindo de exemplo e inspiração para alguém”, diz Gabi. “Tenho uma amiga de Guarulhos (SP) que adora ver minhas fotos, porque assim ela tem vontade de treinar também. Nós mal conversamos, mas estou presente nos dias dela de alguma forma.”
“Hoje me sinto muito mais disposta, me preocupo mais com a alimentação e com horas de sono mais definidas. Fora o fato de ter muito mais fôlego e me sentir mais feliz”, conta. Se notou alguma diferença no corpo? “Sou magrela desde sempre, mas agora minhas coxas estão mais torneadas e minha gordurinha abdominal desapareceu. Está tudo no lugar.”
Antes de abrir espaço em sua rotina para os exercícios físicos, a designer também tinha problemas de ansiedade, como síndrome do pânico, e a prática de esportes a ajudou a tomar as rédeas de sua mente. “Preciso seguir um ritmo para aguentar até o final do exercício, esperar um pouco para a ultrapassagem, treinar com afinco para as provas. Tudo isso exige paciência”, conta. E sempre que ela termina o treino, sente-se muito mais competente e forte por ter conseguido se superar mais um dia. “Quando não treino, me sinto irresponsável, porque eu mesma coloquei as metas e me esforço para conseguir finalizá-las.” E agora não existe mais a história de “não ter tempo pra nada”. “Sinto que basta eu querer algo para arrumar tempo e disposição pra fazê-lo. A idade é apenas um número.”
5 dicas de Gabi para quem quer começar um esporte
> “Escolha um esporte com o qual você realmente se identifique para sentir-se motivada a fazê-lo com frequência”
> “Leve em consideração o valor que seria necessário investir para iniciar os treinos. Existem bicicletas bem caras, mas comecei com uma baratinha. E também escolhi a corrida, já que o investimento seria apenas em um bom tênis”
> “Inicie o esporte com a ajuda de um profissional, porque podem ocorrer lesões sérias se você exagerar ou fizer os exercícios de forma incorreta”
> “Participe de provas para se manter motivada”
> “Conheça pessoas que pratiquem o mesmo esporte para tirar dúvidas e estimular você a ir aos treinos”
Carregando seu transporte
“Eu utilizo uma bicicleta dobrável, porque ela pode entrar no metrô e também cabe no porta-malas do táxi. Se eu me cansar ou o pneu furar, é fácil voltar pra casa. Na hora de pedalar, prefira os caminhos com ciclovia e use os equipamentos de segurança, como capacete e lanternas. Faça amizade com outros ciclistas que percorrem o mesmo caminho que você – juntos somos mais fortes. Outra dica: sempre leve uma trava para bicicleta para proteger seu meio de transporte.”