Por Gabriela Ingrid
A criação da pílula anticoncepcional, nos anos 1960, foi um grande marco da revolução sexual feminina. Mais do que nunca, o sexo passou a ser visto entre as mulheres como prazer e não apenas reprodução. Agora, 50 anos depois, o medicamento voltou ao centro das discussões, mas com outro enfoque. “Grande parte das pacientes que recebemos no consultório querem parar de tomara pílula”, diz Renata Meiga, médica de família e comunidade do Coletivo de Saúde Feminista Sexualidade e Saúde, em São Paulo.
As maiores queixas ouvidas por Renata são sobre os efeitos colaterais dos hormônios presentes no anticoncepcional, entre eles os riscos cardiovasculares e trombogênicos, a diminuição de libido, a dor de cabeça e a enxaqueca. Luiza Cadiol, ginecologista de São Paulo, acredita que o aumento da procura por outros métodos tem relação, principalmente, com o autoconhecimento: “É um desejo de ver como é o corpo sem hormônios adicionados artificialmente”.
Foi esse o motivo que levou a designer gráfica de Curitiba (PR) Daniela Doneda, de 40 anos, a parar de tomar a pílula em janeiro desse ano. “Me dei conta de que usava anticoncepcional desde os 17 anos e achei que era muito hormônio sendo jogado para dentro de mim por tanto tempo.” Após uma consulta com o ginecologista, decidiu usar somente o diafragma e a camisinha durante as relações sexuais e percebeu a diferença até na pele. “Minha sensibilidade aumentou muito. Recuperei minha libido”, disse. WH investigou esse fenômeno.
Perigo nas redes
A universitária Juliana Bardella, de Botucatu (SP), foi uma das vítimas dos efeitos colaterais da pílula. Sofria com fortes dores de cabeça e, de repente, sentiu incapacidade de executar tarefas simples do dia a dia, como comer e ir ao banheiro. “Peguei o celular para fazer uma ligação, mas foi muito difícil. Fiquei muito tempo olhando para a tela, como se tivesse esquecido como manusear o telefone”, disse ela em post nas redes sociais. Após uma ressonância magnética, veio o diagnóstico: trombose venosa cerebral, causada pelo uso do anticoncepcional.
A história de Juliana se espalhou pela internet e assustou mulheres que não tinham conhecimento dos possíveis riscos. Além da trombose, há um aumento das chances de desenvolver câncer de mama e de endométrio. Nas pacientes que já têm enxaqueca – principalmente as que possuem a enxaqueca com aura, que veem pontos luminosos antes da dor aparecer –, os anticoncepcionais combinados (que possuem tanto estrogênio como progesterona) são proibidos, pois aumentam os riscos de acidente vascular cerebral (AVC), segundo Marta Finotti, presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “Os contraceptivos que só têm a progesterona não aumentam muito o risco de tromboembolismo em relação ao da população em geral. Quando associados com o estrogênio é que o perigo aumenta de duas a três vezes”, diz.
Outro fator a ser analisado é o histórico familiar de casos de trombose e AVC, por exemplo. “O tromboembolismo em quem toma anticoncepcional oral é mais comum nos primeiros seis meses a um ano de uso. Passado esse período, o risco praticamente se iguala ao da população em geral”, defende Marta. “O uso do anticoncepcional em mulheres dobra ou triplica o risco, mas continua sendo muito baixo”, explica. Segundo ela, a obesidade, a hipertensão, o diabetes e o tabagismo aumentam muito mais o perigo do que o contraceptivo oral.
Mas existem pessoas que têm predisposição familiar. Segundo Marta, essas sim precisam ter toda a atenção para não usar esses métodos, que para elas aumentam o risco em 10 vezes. “Depende de cada uma. Algumas mulheres consideram que o risco de optar pela pílula ainda é pequeno se comparado ao benefício. Mas, para outras, é grande o bastante para não quererem arriscar”, diz Luiza. Por isso o contraceptivo deve sempre ser prescrito por um profissional, em uma escolha conjunta com a paciente.
Se você decidir parar de usar hormônio, é bom estar preparada para o efeito rebote. “Quando a gente toma a pílula, nosso ovário não precisa produzir hormônio por um longo período de tempo. Ao pararmos, os primeiros seis meses são de adaptação do organismo. A paciente pode ficar um tempo sem menstruar e desenvolver mais espinhas e oleosidade no cabelo. Mas logo o corpo entra em um novo equilíbrio”, explica Luiza.
Caso a oleosidade continue a incomodar, o problema pode estar em outros aspectos da vida – talvez na alimentação, por exemplo. “Somos criadas para acreditar que o natural é o corpo que temos quando usamos a pílula. Por isso, estranhamos ao pararmos”, diz Renata. “Muita gente associa parar o anticoncepcional com a acne, mas, na verdade, passado o período de adaptação, esse é o seu corpo natural. E é necessário descobrir a causa da oleosidade excessiva, em vez de frear os sintomas.”
Anticoncepcionais não-hormonais
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