Mariana Ximenes: “Precisa de uma política de aborto que proteja a mulher”

Por Camila Borowsky

Mariana Ximenes
Foto Autumn Sonnichsen

“Unidas nós somos mais fortes”, disse Mariana Ximenes, 37 anos, em muitos momentos durante sua entrevista à Women’s Health. E a atriz leva o lema a sério. Não à toa ela escolheu uma equipe toda formada por mulheres para trabalhar na sua capa: fotógrafa, maquiadora e produtora, fora o time da WH, inteiramente feminino.

Feminista declarada, Mariana contou que procura saber mais sobre o tema através de grandes escritoras. Veja abaixo a entrevista:

Você vem sempre engajada nas causas sociais…

Sim, estou sempre fazendo alguma coisa…

De onde surgiu esse teu lado engajado socialmente?

Meus pais sempre ajudaram muitas pessoas. Acho que o fato de eu ser muito grata à vida, porque faço exatamente o que sempre desejei, sempre quis ser atriz e hoje eu posso, me dá uma gratidão imensa. Quero poder usar essa projeção que me deram, que tenho, para algumas causas.

Estes tempos fiz uma sessão de fotos que ficou muito interessante. Pensamos que
poderíamos tentar arrecadar uma grana com elas. Conhecemos uma instituição legal no Cantagalo (RJ), que instrumentaliza as mulheres, dá cursos de gestão etc. Então arrecadamos fundos através das fotos para ela. Tem outra instituição, chamada Arte Salva, que é de uma menina que faz um trabalho com as crianças do lixão. Eles pegam discos, pintam.

Eu estava com um filme em cartaz e pedi para a produtora para levar as crianças e os adolescentes. Conseguimos um ônibus fretado, combo de pipoca e levamos eles para verem o filme e baterem um papo comigo. Havia pessoas que nunca tinham visto escada rolante antes. Estou sempre ligada a isso. Isso me dá um prazer de estar próxima, de conhecer mais cidadãos, que a gente possa exercer nossa cidadania de todas as formas.

Eu te vejo sempre envolvida com causas feministas. Desde quando se descobriu uma?

Acho que, quando se começou a falar sobre isso, veio uma onda. Você, como mulher, não tinha como não se posicionar. Não tinha como não olhar para isso. Comecei a tentar entender um pouco mais.

Comprei os livros da Djamila Ribeiro, da Angela Davis, da Chimamanda Ngozi Adichie, da Mary Beard. Comecei a tentar decifrar o que era isso, como se colocar, quais eram as raízes disso. Fui estudar para falar com propriedade sobre o assunto com a família, com amigos e amigas.

Você já sofreu algum preconceito por ser mulher na sua profissão?

Sempre penso nisso. Acho que machismo, sim. Antigamente a gente não mensurava que aquilo era um ato de machismo. A gente passava, ria, disfarçava e ia. Mas não tinha consciência de que era machismo. Agora, não. Agora estamos unidas. Agora, dentro das empresas, há órgãos de auxílio a isso, as coisas têm nome.

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As coisas têm se revelado e vindo à tona. Às vezes, por exemplo, vejo uma cena de nudez desnecessária e isso é machismo. Ela está lá só para aparecer um peito, uma bunda, para aumentar uma audiência. E isso é um tipo de machismo. E hoje em dia a gente questiona essas cenas de nudez: por quê? Vai servir para contar a história? Em O Circo Místico eu tenho uma cena de nudez, mas ela conta a história. Essa mulher vem nua, sangrando, estuprada. Tem todo um contexto.

Vi que você se manifesta pela descriminalização do aborto. Por quê?

Eu me posiciono a favor da descriminalização do aborto porque tem muita mulher que morre por conta de um abordo mal-feito. Penso que tem que haver uma política de aborto que proteja mais a mulher, que olhe mais para a mulher. É tudo em cima da mulher.

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Às vezes as pessoas me perguntam: “Mas você não quer ser mãe? Por que você ainda não teve filho?”. Eu respondo: “Você já perguntou isso para um homem?”. Fico injuriada.

Você faria uma produção independente?

Faria, mas prefiro um pacto de amor. Sou romântica, não tem jeito. E, olha, eu tenho pai. E foi muito bom ter um pai presente. Foi muito importante na minha formação ter meu pai, minha mãe e meu irmão. Então sonho com isso, em formar uma família. É meu sonho como mulher ter uma família fruto de um amor.

Você viveria um relacionamento aberto?

Não sei. Sou ciumenta. Nunca tentei. Mas não sei. A gente não pode ser inflexível. Em um relacionamento de muitos anos, talvez a gente pense nisso como solução. Mas é uma coisa que precisa ser muito conversada. Uma relação, sobretudo, precisa ter respeito de ambas as partes. Tudo depende muito. Não posso falar sim ou não. A gente não sabe.

Qual conselho a Mariana de 37 anos daria para a Mariana adolescente?

Seja menos ansiosa, talvez? [risos]

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