Por Larissa Serpa
Capa da revista WH de agosto, Deborah Secco fala sobre carreira, relacionamento e sua vida como mãe.
Você está comemorando 30 anos de carreira com a peça Uma Noite Dessas. O que aprendeu de mais valioso nesse tempo todo?
Muito do que eu sou, da minha vida, veio do trabalho. Meus valores não são só familiares, eles também vieram das pessoas com quem convivi trabalhando. Esse estilo de vida me ensinou profissionalismo e simplicidade, a necessidade de colocar as coisas em perspectiva. Aprendi muito cedo a não dar valor para os “problemas pequenos”, a não me estressar. Dou atenção ao que importa de verdade: saúde, família…
Você começou muito novinha, seus pais te apoiaram?
Sim, comecei aos 8 anos. Eles, na verdade, não tiveram muita opção. Apesar de ficarem com receio, perceberam rapidamente que era isso o que me fazia feliz. Mas acho que meu pai, até hoje, acha que pode ser uma brincadeira e que eu vou mudar de ideia [risos].
Os projetos vêm até você ou você vai atrás deles?
A peça [Uma Noite Dessas] foi um projeto criado por mim. E tem muitos outros que eu é que fui atrás, como (os filmes) Bruna Surfistinha e Boa Sorte, que eu quis fazer e produzir junto, com consciência de todo o projeto antes de acontecerem. Acho que quando você começa a não só atuar mas produzir também, você fica muito mais dona de tudo. Ao mesmo tempo que aprende a confiar nos outros, no trabalho do outro, você pode focar mais na sua parte artística. Eu gosto disso.
As decisões são tomadas em conjunto com a família e uma equipe ou você decide sozinha?
Artisticamente, eu decido sozinha. Muito pela minha própria vontade como atriz. Preciso atuar em papéis que me façam feliz, então vou atrás desse personagem, do que sinto que está faltando para me realizar artisticamente.
Se pudesse abrir um negócio que não fosse relacionado com a carreira artística, o que seria?
Tudo que tenho vontade além do trabalho de atriz ainda está dentro do meio, como ser produtora. Acho que a arte me satisfaz muito. Não tenho esse tino empresarial, meu negócio é muito mais com a parte artística. Acho que a arte tem que ser vista – e não só a minha, se eu sei de alguma atriz que tem uma grande vontade de mostrar certo papel, eu fico muito feliz de produzir isso para ela.
Como você concilia a carreira com a vida de mãe?
É muito difícil. Quando a Maria [sua lha, de 1 ano e 8 meses] nasceu, achei que não fosse possível. Mas comecei a entender que eu tinha que continuar por ela, tenho que mostrar que a gente precisa se sentir realizada, fazer o que acredita. Mas ainda é um aprendizado porque eu adoro fazer tudo com ela, ficar em casa, dar banho, brincar… Sou uma mãe presente, então no início foi complicado. Agora, eu aceito projetos que me deem uma certa liberdade de tempo.
E isso nem é pela Maria, ela fica muito bem em casa sem mim, mas eu sinto muita falta. Mas pretendo levá-la junto no futuro, meu sonho maior é que ela entre no palco para agradecer os aplausos comigo.
Maria consegue separar a Deborah mãe da Deborah atriz?
Acho que ainda não. Ela me vê na TV e ainda fala “mamãe”, mas acho que vai ser natural. Eu sempre vi minha mãe em casa comigo e me acostumei com isso. Ela vai ver a mãe dela sempre trabalhando.
É o que a Ivete [Sangalo, cantora] me fala sobre seu filho: “Ele conhece a mãe dele trabalhando, o contrário é que seria estranho.”
Você é uma mãe rígida?
Com algumas coisas procuro ser mais firme. Por exemplo, escovar os dentes: ela não entende que é necessário porque faz bem, então vou tentando transformar essas coisas chatas em brincadeira. Ela tem que adivinhar onde a sujeira está: se é na frente, atrás, do lado, na língua…
E aí vai escovando tudo. Vou tentando cobrar coisas dela de uma maneira divertida.
Qual a principal mensagem que você procura passar para ela?
Que tudo o que as pessoas veem em mim, todo esse glamour, é ilusão. Que na verdade somos todos iguais. Meu marido [o ator Hugo Moura] faz questão de levá-la para andar de ônibus, de metrô, para ela ver que somos todos iguais. E ela adora, chega em casa falando que fez amigos no ônibus.
Sua vida amorosa aparenta ser muito saudável, vocês parecem se dar muito bem…
Muito. A gente se encontrou. É difícil achar pessoas que queiram exatamente a mesma coisa que você.
O projeto de vida dele é o mesmo que o meu: ter uma família e lutar diariamente por ela. Nós estamos muito empenhados nesse propósito, ele quer estar presente em todos os momentos, assim como eu. E a Maria vê esse carinho que a gente tem um com o outro. Ele é, sem dúvida, o melhor pai que já vi, acorda cedo para levá-la para andar de bicicleta, para ir à pracinha, para a escolinha, depois vai buscar e ainda leva no parque. Ele tem gás para acompanhá-la.
Qual você diria que é o segredo para um relacionamento bem-sucedido?
Querer. Você tem que querer fazer dar certo, querer a família acima de tudo. Querer que seu parceiro te deseje, querer ficar perto…
Qual a sua ideia de saúde?
Ser feliz. Hoje acredita-se que até o câncer pode ser causado por estresse, e eu creio em ser leve para ser saudável. Tenho que valorizar o que me faz feliz e tentar não dar importância para o que me chateia. Sempre vão ter pessoas nos magoando, podemos dar importância a isso ou não. Mas graças a Deus minha família sabe envelhecer bem. Tenho uma avó de 89 anos que está noiva, sai para dançar toda noite. Só não envelhece quem morre antes, então que bom que eu vou ficar bem velhinha, bem enrugada, tenho desejo da velhice.