Prazer feminino: ela deixou sua carreira e agora empodera mulheres

Por Thieny Molthini

Foto: Bruno Santos

Uma carreira promissora, um relacionamento estável, um bom salário, tudo parecia perfeito, mas, para Mariana Stock, alguma coisa não se encaixava. Será que fazia sentido viver aquela vida? Será que estar condicionada a um horário de trabalho, a uma rotina, era o que ela queria? Será que aquilo era o que te dava prazer? Para tentar encontrar respostas a essas questões, ela abriu mão desse caminho certo e foi se descobrir. Hoje ela esta à frente da Prazerela, que tem como objetivo empoderar mulheres sobre o prazer. Projeto que cresceu e hoje “habita” uma casa em São Paulo voltada ao prazer feminino. Lá serão feitos cursos e workshops para falar sobre o assunto, um espaço para mulheres, sem julgamento, sem pudores.

Conversamos com a Mariana para entender esse ponto de virada, que mudou, não apenas a sua vida, como a de outras mulheres que estão conhecendo um mundo novo através do seu projeto.

Como você decidiu deixar a sua carreira para trás?

Eu entrei em uma multinacional aos 17 anos e com o passar do tempo comecei a me questionar se era aquilo mesmo que eu queria para a minha vida. Aos 24 anos decidi sair de lá e com 25 tive meu ano sabático. Eu queria sair daquela dinâmica e refletir sobre o que eu queria para mim. Depois desse período me chamaram para trabalhar em uma empresa que eu admirava muito. Aceitei e em 2010 sai de Curitiba (PR) e vim para São Paulo, o que foi uma grande transição para mim. Lá eu passei por diversas áreas, mas o questionamento continuava. Comecei então a me perguntar sobre o que me dava prazer. Coisas que eu precisava consumir, coisas que eu poderia comprar, experiências que eu poderia adquirir. Eu tinha capital para isso, no entanto quanto mais eu trabalhava menos tempo eu tinha para desfrutar disso, no máximo eram migalhas de prazer aos finais de semana. Eu precisava tirar férias. Decidi viajar e fazer o Caminho de Santiago (na Espanha). Eu já fui com a ideia de me demitir, quando voltei, tomei minha decisão e, em agosto de 2016, eu deixei a empresa.

Você teve medo?

Foi difícil. Eu estava em uma posição privilegiada. Um lado meu se sentia culpado por isso. “Estou em um cargo que muita gente gostaria de estar”, eu pensava. Como eu não queria o que todo mundo queria? Estava abrindo mão disso e eu não sabia ao certo o motivo. Mas eu me preparei.

De que forma?

Primeiro eu economizei para poder ficar um ano e meio sem trabalhar. O máximo, para ter fôlego. Ao mesmo tempo fiz uma agenda. Cada dia eu faria uma coisa diferente, alguma atividade lúdica. Foi fundamental me programar. Porque há uma sensação de abismo, de angústia, por conta de um lado social.

O que tinha nessa agenda?

Eram atividades que pudessem me dar prazer. Eu queria saber o que me dava essa sensação de fluxo. Essas coisas ficam tão ofuscadas que aquilo que nos dá tesão a gente acaba esquecendo. Por exemplo, eu gostava de escrever, então me inscrevi em um curso de escrita criativa. Gostava de desenhar, então me inscrevi em um curso de desenho.

Mariana Stock durante workshop na casa Prazerela. Foto: Calu Machado

E quando o prazer feminino, de fato, entrou nessa agenda?

Durante esse processo me lembrei que enquanto ainda estava trabalhando fiz uma massagem tântrica. Eu me achava muito bem resolvida sexualmente e algumas vezes a questão do tantra surgiu em assuntos com amigas e até com um vice-presidente com quem conversava. Resolvi experimentar. Eu tinha uma visão preconceituosa sobre o assunto, via como algo pervertido. Mas quando cheguei à terapia escutei sobre questões sociais. Entendi como a dor é glorificada e o prazer é visto como algo ruim. Acontece que biologicamente temos um corpo erógeno. Aprendi que neurologicamente as cadeias receptivas de dor e prazer eram as mesmas. Foram necessárias três, quatro sessões para que eu entendesse isso, foi quando atingi uma hora de orgasmo. Se ela não tivesse me preparado, seria uma experiência de dor. Durante essa experiência tive o insight de um parto, o auge da dor e também um potencial para sentir outras coisas, além da dor.

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Mas aquilo não cabia na vida que eu vivia. Experimentei e voltei para o meu trabalho e relacionamento.

Anos depois, quando já havia deixado o emprego falei dessa experiência com uma amiga que tinha acabado de ter um filho e ela me questionou como falei isso para ela só depois dela parir. Foi quando decidi me aprofundar no assunto e fazer um curso de doula. Depois fiz um de parteira. Foi uma experiência de quebrar estruturas.

De que forma isso aconteceu?

Esse último curso, das 28 mulheres que faziam, cinco tinham sido abusadas sexualmente e todas já tinham sido abusadas de alguma forma. Criamos um espaço de confiança, um coletivo de sororidade. Durante as conversas, debatíamos como nós aprendemos desde muito cedo a ser o prazer do outro, a estar sempre bonita para o outro, a gente não aprendeu a ser um sujeito “desejante”. Quando voltei a São Paulo, eu estava desestruturada.

E como isso afetou você, nessa busca por algo que te desse prazer?

Aos poucos fui tecendo uma carreira de sentidos. Várias reflexões surgiram. Nesse meio tempo o tantra apareceu novamente. E eu vi a necessidade de falar sobre o prazer muito além da sexualidade. Foi então que, em fevereiro deste ano, comecei a falar sobre o assunto no meu Facebook.

E você foi criticada?

No começo foi um choque. Esse primeiro período de sustentação foi difícil. O que me dava força era ter subsídio e estar vivendo isso. Mas quando viram que eu tirei o lugar fantasioso e coloquei naturalidade no discurso, essa percepção mudou e muita gente começou a me escrever. Foi assim que surgiu o projeto Prazerela.

O que era um espaço para discussão online (Facebook e Instagram) cresceu e agora você tem uma casa em São Paulo dedicada ao projeto. Como foi essa transição?

Falar sobre o assunto era fácil para mim, mas lembrei como a parte sensorial era importante. Precisava de um ambiente acolhedor, um espaço para que as mulheres se reunissem, pudessem também experimentar o tantra, vivenciar essas experiências.

Após toda essa transição, como você vê a importância do emporamento do prazer feminino?

Quando você vive essa experiência, ela acaba refletindo na sua autoestima de maneira generalizada. O corpo da mulher é o que nos une. Existe um caminho que não é pautado pela diferença, mas pela semelhança. Sentir a potência do prazer feminino é sentir a potência de ser mulher.

Quer conhecer mais do projeto? A casa Prazerela já está com programação para este ano. Acompanhe pelo pelo perfil no Instagram, @prazerela, ou através do site www.prazerela.com.br.


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