O que aconteceria se você corresse uma meia sem treinar?

Foto: Shutterstock.

Por Amy Roberts

Imagine que há alguns meses uma meia maratona apareceu no seu radar. Uma amiga decidiu fazer a prova, então você pensou, “por que não?”. Depois, bem, a vida continuou. Você não fez os treinos de corrida regularmente como deveria fazer (na verdade, não correu nada). Mas continuou com uns treininhos aqui e lá na academia, fez ioga ou pedalou durante a semana. Quando o dia da prova chegou, e sua amiga estava superansiosa, você pensou, “Qual o seu problema? Vamos nessa!”.

“Qual o seu problema?” se aplica muito bem nesse caso, segundo Janet Hamilton, fisiologista do exercício, fundadora e treinadora do Running Strong Professional Coaching, em Atlanta, nos EUA. “Eu fico arrepiada só de pensar que alguém do nada pulou do sofá e foi correr uma meia maratona.”

“Mas eu estou em boa forma”, você diz. “Se nós formos com a premissa de que você tem menos de 30 anos, está no seu peso ideal, e faz atividade física de 45 a 90 minutos por dia, podemos assumir que você tem um nível razoável de condicionamento aeróbico”, diz Hamilton. “Mas nada – nem bicicleta, natação, elíptico, kickboxing, etc. – coloca a mesma carga nos músculos, tendões e ligamentos das pernas do que a corrida.” Tradução: Se você vai correr uma meia maratona, você realmente deve se preparar pra isso.

Não há contra-argumentos, você diz, você vai e pronto. Ei, calma aí, essa é uma péssima ideia! Quer que eu convença você? Veja a seguir o que vai acontecer com o seu corpo:

Você vai ter que andar… muito
As coisas podem começar bem, e se você está relativamente condicionada devido aos outros exercícios, pode correr numa boa os primeiros quilômetros. Depois, sua falta de treinamento específico para a corrida vai começar a te alcançar. Além da frequência elevada de batimentos cardíacos, da respiração que vai ficando cada vez mais difícil, e da fadiga muscular (sem mencionar outros sintomas que você está prestes a ler), você terá que diminuir o passo, não importa o quanto você queira sustentar seu pace. “O cérebro monitora o status do que está acontecendo com o seu corpo, incluindo indicações de dano nos tecidos, temperatura, status de hidratação e combustível, concentração de eletrólitos, etc.”, explica Hamilton. “Quando parecer que as coisas estão saindo do seu controle, o cérebro vai intervir e forçar você a reduzir o estresse corporal.” Mas Hamilton também alerta que se você não quer assumir isso, no pior dos casos, vai ter que andar. “Não importa se você corre, anda ou rasteja por todo o percurso, 21 km é um longo caminho – quatro horas se você ‘só’ andar”.

Você vai se machucar
Durante uma meia, os músculos da perna doem, mesmo para aqueles que treinaram bem para uma prova como essa. Um corredor que não está preparado está ainda mais propenso a isso, então as dores podem começar ainda no início da prova – e ficarem ainda pior depois. Você também pode sofrer problemas no tendão, que pode levar a lesões como tendinite crônica. Fraturas por estresse são também um risco, especialmente se você tem osteopenia (a precursora da osteoporose). “Ir do zero a uma meia maratona coloca você em uma zona de risco muito mais alta do que os outros corredores ‘reais’, que treinaram corretamente”, diz Hamilton.

Você pode sentir muito calor (ou muito frio)
A regulação de temperatura é um desafio para um corpo que está se exercitando, especialmente um que sua muito. Se você de repente começar a sentir calafrios depois de suar a camisa, pode estar com deficiência de eletrólitos. Enquanto isso pode acontecer com qualquer corredor que não faz um bom trabalho de hidratação ou de alimentação durante a prova, será especialmente pior em pessoas que não treinaram o corpo para esse tipo de situação. “Quando você não está bem condicionada, tende a transpirar um suor mais concentrado, o que significa que mais eletrólitos estão sendo excretados”, diz Hamilton. “Seu corpo não aprendeu a conservar essas fontes como alguém que já fez várias corridas longas.” Corredores sem experiência não são apenas menos eficientes na regulação de temperatura como também costumam gerar mais calor porque trabalham mais duro para sustentar o pace – o que significa que eles têm maior propensão a superaquecer.

Sua cabeça pode doer, e o mundo pode girar
Sentir desorientação, tontura e vertigem é possível se você ficou desidratada, seus eletrólitos ficam completamente fora de sintonia, e/ou o seu corpo gastou todas as suas fontes de disponíveis de energia. Se você sente qualquer um desses sintomas, acredite, não é coisa da sua cabeça. Você precisa de um posto médico e de eletrólitos (sais e minerais), e/ou açúcar de rápida digestão. Ainda assim, você pode não continuar a prova. “Conclusão: você tem que respeitar seu corpo e escutar seus sinais”, diz Hamilton. “A dor é o jeito que o seu organismo tem para te avisar de que há algo errado. Se você ignorar isso, faça-o por sua própria conta e risco.”